Caso 40% ENF IV CAL

Estamira, trabalha no lixão em Gramacho-RJ, onde diariamente são eliminados milhares de toneladas de lixo residencial, industrial e hospitalar, expondo os trabalhadores a diversos riscos. Além disso, devido à situação econômica, esses trabalhadores acabam morando próximo aos lixões em condições precárias, ruas sem asfalto, esgoto a céu aberto, casas de compensado. Estamira apesar dos seus 50 anos, aparentava muito mais. A casa era muito pequena, feita de compensado e piso feito de cimento queimado, tinha apenas um cômodo dividido com uma cortina muito suja. Como não tinha banheiro, as necessidades fisiológicas eram feitas na casinha de madeira, sem porta, que ficava do lado de fora. Apesar de dizer várias frases desconexas, aparentava-se muito lúcida quando discutia questões acerca da sua realidade social e econômica. A única fonte de renda era aquela oriunda do lixão, assim como, os alimentos. Estamira, às vezes, mostrava-se arrogante, verbalmente agressiva, até mesmo desagradável. É o retrato do desamparo humano, não só filogenético ou ontogenético, mas também social, econômico e político, relata que anda uma hora pra chegar ao lixão e que às vezes volta com peso nas costas sem encontrar sequer um pedaço de pão velho para se alimentar. Estamira aparenta estar muito fraca, relata que emagreceu muito nos últimos meses e que quando tosse sai sangue pela boca. A enfermeira perguntou aonde ela poderia lavar as mãos para examiná-la, se deparando com uma pia cheia de louça suja e com um cheiro que chegava a dar náuseas.
Esteve internada há dois meses. Chegou ao hospital enrolada em um cobertor, pois estava queimando de febre, com falta de ar, e com o coração disparado. Ao examiná-la, a Enfermeira verificou também que a pressão também estava alta, registrando todos os dados no prontuário para fazer uma investigação. Estamira relata que não gosta de ir ao médico nem ao hospital, porque todas as vezes que esteve internada ficava perdida, porque tanto o médico quanto a enfermeira apenas anotavam os dados, copiavam receitas e nem sequer olhavam para ela. Muitas das vezes nem sabia o porquê de estar lá. Outras, simplesmente diziam: pode voltar para casa, você já está bem.

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