Caso 40% ENF V CAL

Paripiranga tem 29.000 habitantes, e consta de uma ESF, até então a população não cadastrada era atendida no hospital, porém, com pouco ou nenhum recurso, sempre acabavam sendo encaminhadas para o município de referência.  E muitas vezes, eles procuravam tratamentos alternativos através da umbanda, costume bastante comum na região. E por tal motivo, eles ficaram muito satisfeitos com a nova unidade implantada.
Joana é enfermeira recém-formada e assumiu a coordenação da Estratégia de Saúde da Família, em uma unidade implantada há 45 dias no município de Paripiranga – BA. Essa ESF atende 4500 pessoas e tem, além de Joana, uma técnica de enfermagem que atua três vezes na semana, cinco ACS, um dentista responsável também por outra ESF do mesmo município, uma ACD e uma auxiliar de limpeza. O médico ainda não fora contratado. Com 45 dias de implantação já começaram as reclamações sobre alguns ACS por parte da população.
- Ando meio desconfiada desse tal saúde da família.
- Eu também... veja só, a menina bateu lá em casa bem na hora do almoço dizendo que precisava fazer um cadastro... por educação acabei convidando ela para almoçar... só por educação, porque a comida mal dava pros meus fios, arroz, feijão, ovos de capoeira principalmente fritos... aí ela foi logo fazendo o prato, e que prato hein!
- Já a que foi lá em casa foi logo me falando que eu precisava melhorar a limpeza... pegou uma bucha e foi lavando a louça que tava na pia e nem perguntou o porque eu ainda não havia limpado a casa.
- Pior foi a que apareceu lá em casa. Entrou, sentou sem pedir e foi me fazendo um monte de pergunta... se alguém era drogado, doido, e se eu usava camisinha com meu marido... olha só!
A ESF ainda está em processo de cadastramento no SIAB e demais sistemas. Já foi feito a divisão das famílias por ACS, porém, eles não estão nada satisfeitos, pois, alegam que uns estão sobrecarregados enquanto outros nem tem o que fazer.
Giselda, uma das primeiras usuárias da unidade, é casada, tem 40 anos de idade e é portadora de um retardo mental leve, manifestado através de uma dificuldade de abstração, fala lenta e arrastada. Esse problema foi causado por sua obesidade que, além de provocar esteatose hepática e diabete, provocou aterosclerose, ocasionando um AVE isquêmico. Esse AVE foi o responsável pela necrose cerebral que deixou Giselda com retardo mental, inclusive, na ocasião, foi diagnosticado que havia uma degeneração hidrópica no cérebro da moça, problema resolvido com a utilização de uma solução hipertônica.
Depois de tudo isso, em certa ocasião, Giselda foi atendida por Joana, apresentando amenorreia há quase dois meses e meio, oligúria, rede de Haller evidente, náuseas, vômitos, tubérculos de Montgomery e andar anseriano. A enfermeira solicitou um exame de gravidez e a gestação foi confirmada.
Na consulta de enfermagem: Gestante desconhece IG, G: III, A: 0, PN: 01, PC: 01. DUM: 11/11/11. Relata cefaleia, lipotimia, náuseas, pirose e lombalgia. Refere disúria há três dias. Na mesma consulta, apresentou peso: 80 Kg, altura: 1.63 m; PA: 14x10 mmHg; P: 80 bpm; R: 18 mpm e Tº: 36,8Cº. Joana forneceu todas as orientações referentes à gestação, porém, não percebeu que Giselda era uma usuária especial e que compreendia parcialmente as informações fornecidas pela profissional, relata a enfermeira que dá preferencia a alimentos gordurosos e industrializados e principalmente os regionais como carne de sol, mugunzá, cuscuz e macaxeira.
Aos exames, apresentou as seguintes alterações:
Hb: 8g/dl
VDRL: reagente
ABO-Rh: A –
Parcial de urina: piócitos: 32 por campo.
Após a realização de mais exames foi descoberto uma degeneração hialina extracelular, ligada à aterosclerose e à hipertensão, que estava impedindo o rim de Giselda de realizar seu trabalho.

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